VIVER PARA ETERNIZAR-SE
Vilmar Serighelli
Vilmar Serighelli
No mundo das relações humanas, a base fundamental é conhecer-se e, conhecendo, estabelece relacionamentos verdadeiros. Muitas vezes, prevalece o medo de entrar em nosso interior e tomar posse do que realmente somos e cremos, sem criar máscaras de proteção, que escondem nossa verdadeira imagem. A busca de conhecimento do outro, passa necessariamente pelo conhecimento de nós mesmos. O desconhecido em nós faz com que não tenhamos a força suficiente para ir ao encontro do outro, como somos. Tomar posse do meu eu, para possuir o eu do outro.
No caminho da realização pessoal, o passo fundamental para ser feliz está no abandono do medo de nós mesmos. Assim seremos capazes de mergulhar no conhecimento dos outros e estabelecer relacionamentos verdadeiros, sem preconceitos ou julgamentos indevidos. Nossa convivência em casa, no trabalho, no lazer, na comunidade será agradavelmente prazerosa, quando amarmos o que conhecemos em nós, para poder amar o que conhecemos no outro.
A capacidade de parar e encarar o positivo e o negativo que existe em nós, muitas vezes é abafada pelo medo de nos surpreender com uma explosão do que realmente somos. O medo é fruto de uma atitude muito pessimista em relação a nós mesmos. Na medida em que revelamos, a nós, o nosso interior e assumimos a realidade pessoal do jeito que ela é, passamos a viver uma liberdade jamais vivida.
Feliz a pessoa que se eterniza pelas suas ações, que comunica e constrói relações, que sabe respeitar os outros e vive em harmonia com o universo e suas palavras são expressões de seus sentimentos. A vida em si mesma não tem significado. Ela somente recebe significado se eternizar-se em nossas ações. Se cada ato receber o colorido do eterno. Se cada gesto se prolongar para sempre.
Todos vivemos no tempo. Podemos apenas viver no tempo e morrer nele. Seria frustração total. Há um sonho em cada ser humano de viver sempre. Nascemos para viver, onde o morrer se torna apenas um ato dentro do viver. Porém, muitas pessoas não cultivam o sonho de viver. Preferem viver para morrer. Morrem, de fato, sem eternizar-se, frustrando seu destino e vocação de eternidade.
O trágico e, ao mesmo tempo, o belo da vida, é saber que somente nós podemos decidir sobre o nosso presente e futuro. Ninguém pode interferir em nossa liberdade e decisões. Nem Deus. Somos livres em nossas escolhas. E se nem o Transcendente interfere, muito menos os anjos e demônios, os astros e os espíritos iluminados e milagreiros, os pregadores e os abençoadores. Debaixo de nosso braço, na sacola de nossa bagagem, na caminhada de nossos anos, estão a tela, o pincel, as tintas e todos os instrumentos de trabalho. Podemos morrer com a tela limpa, frustrados e infelizes, ou podemos ter tido a alegria de pintar um lindo quadro com nossas decisões e criatividade.
Há um segredo para eternizar-se. Ser cocriador com o Criador. Ter certeza de que este universo, obra perfeita saída das mãos do Eterno, não será destruído pela água ou pelo fogo, e sim, será apenas purificado das maldades. Tudo o que é passageiro, bens materiais e orgânicos, parentes e familiares, sexo, idade e tempo, tudo será espiritualizado e glorificado. E quem recusar espiritualizar-se em vida - e ali entram os materialistas e os autossuficientes - será destruído, porque perante a ação do amor só permanece o que foi eternizado pelo mesmo amor.
No entanto vale se perguntar: todos estes bilhões de seres humanos, no meio da paz e da violência, do amor e do ódio, do salvar-se e do matar-se a toda hora, do trabalhar e do sentar-se à beira do caminho sem nada fazer, para onde estão caminhando? Estão cultivando dentro de si o desejo do eterno? Ou tudo se torna fantasia?
Não temos nada a esconder e muito menos a guardar sob sete chaves. A transparência é o espelho da alma que acredita ser o que ela é para conhecer e amar o outro como ele é. Vivemos tão pouco, por que não estabelecer relacionamentos sinceros e verdadeiros sem medo de nós e do outro?
Dedico esse texto a todos os pais, cocriadores da eternidade!
Que Deus nos guarde na palma de sua mão.
correio: serighelli@uol.com.br
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